Joanna Peres de Pereira, a Joanita, conhecida internacionalmente como Mademoiselle. Pereira, foi um dos grandes nomes na história mundial do trapézio. A imprensa londrina deu grande destaque ao seu desempenho no trapézio no Circus Holborn quando substituiu a trapezista francesa Mademoiselle Azzela (Emilie Anne “Rosita” Zanfretta), que havia se acidentado. O jornal londrino, o Glasgow Evening Citizen, de 23 de abril de 1868, publicou na capa uma ilustração da trapezista, destacando sua performance. “Ela faz a descida com indiferença - ou seja, ela escorrega repentinamente da barra e fica pendurada de cabeça para baixo. Ela também se suspende no trapézio pela nuca, e, em todos os diversos atos, consegue inspirar no público um sentimento de confiança semelhante à de sua antecessora”
Seu sucesso foi tamanho que no mesmo ano recebeu, ainda em Londres, um cinturão de metal – cujos adornos revelam em alto relevo a artista saltando do trapézio triplo – como reconhecimento pelo seu trabalho, que lhe foi concedido por Miss Venetia Bagshaw, em nome do Circus High Holborn e do Frankone Circus Manchester. No ano seguinte, se apresentou no alemão Circo Reinz, em Viena, onde foi muito aplaudida e comparada às cantoras líricas e atrizes da época por seu brilhantismo. “A aparência que Mlle. Pereira lança do alto da sua arte o suficiente para virar a cabeça dos nossos bon vivants”, comentou a imprensa de Viena (Raketteln Humoristisches Volksblatt. Viena, 9 de outubro de 1869). Na sequência fez temporada em Paris antes de alcançar o Rio de Janeiro, onde estreou no Circo Irmãos Pereira em 1872.
Nascida em Logronho, Espanha, em 1849, estreou aos quatro anos em Madri, fazendo depois temporada na cidade do Porto, em Portugal. Já era casada com o equestre e empresário circense Albano Pereira quando ficou conhecida em diversas cortes europeias. “Com sucesso inabalável, ela já se apresentou em vários países e possui souvenirs das principais cortes da Europa”, diz reportagem da época. A estreia no Brasil, em 1872, traz uma trapezista consagrada para as temporadas no Rio de Janeiro (1872) e em São Paulo (1873).
Em 1875 participou da inauguração do ousado projeto do Pavilhão Universal, do marido, em Porto Alegre. Joanita teve seis filhos com Albano: Clementina (nascida em Marselha, França), bailarina; Luiz (nascido na Áustria), jóquei; Carmen (nascida em Buenos Aires, Argentina), aramista; e Anita, Carlos (tony João Minhoca) e Alcibíades (clown), estes últimos palhaços, nascidos no Brasil. Todos, portanto, deram continuidade ao legado dos pais como artistas circenses. A grande trapezista morreu em 1901, aos 50 anos, após convalescença. Um século e meio após a conclusão de sua vida profissional, os pesquisadores norte-americanos Steve Ward e Peta Tait apontam em duas obras recentes (Sawdust Sisterhood – How circus empowered women, de 2016 e Circus bodies – Cultural identity in aerial performance, de 2005) a importância de Mlle. Pereira por abalar o conservadorismo vitoriano com sua feminilidade aliada à força exigida nos números de trapézio Isso levou os críticos conservadores da época a se virem obrigados a reconhecer suas qualidades artísticas acima dos seus preconceitos machistas.