Trata-se de uma coleção familiar constituída de documentos iconográficos em sua grande maioria, doada por Alcibíades Albano Pereira, quinta geração da família, em 2008. Ela se refere a quatro gerações da Família Pereira: a do casal Joanita (1849-1901) e Albano Pereira (1839-1903), a do filho Alcibíades Pereira (1883-1962), a do neto Albano Pereira Neto, o clown Fuzarca (1913-1975), a quem se refere grande parte dos documentos. Possui também documentos referentes a um dos circos da família, o Circo Alcibíades. O destaque principal fica por conta do cinturão de Joanita Pereira, o documento mais antigo do acervo do Centro de Memória do Circo, que foi concedido à artista em Londres, em 1868, pela sua performance nos circos Holborn e Frankone. Outro destaque é uma foto do final da década de 1920 da plateia do Circo Alcibíades, instalado no Largo do Paissandu, um possível registro de alguns dos intelectuais modernistas que o frequentaram no período.
Atualmente, a coleção, depois de passar por procedimentos de preservação, conservação e pesquisa, encontra-se:
• classificada;
• higienizada;
• acondicionada;
• catalogada parcialmente;
• digitalizada parcialmente
• pesquisa adiantada;
• disponível para consulta presencial a partir dos procedimentos internos do CMC (link).
A coleção soma 45 documentos nos formatos bibliográficos, condecorativos, fonográficos/musicais. iconográficos, textuais:
Temas que compõem a coleção:
- Circo
- Transporte
- Família
- Números circenses
- Cenas de circo teatro
- Duplas de palhaços
- Fotos do elenco
Os documentos textuais trazem notícias do espetáculo do Circo Alcibíades e informações sobre o artista Alcibíades Pereira, e sobre o seu falecimento. Os iconográficos trazem, nos cartazes e programas, informações sobre o espetáculo e o elenco do Circo Alcibíades; os registros fotográficos mostram a área externa e interna do mesmo circo, no final da década de 1920, no Largo do Paissandu. Mostram também os bastidores e seus espetáculos na década de 1940. Nestas fotos, chama a atenção a forte presença do Circo Teatro e a versatilidade de Albano Pereira Neto, o Fuzarca - acrobata, ator, ciclista, paradista e palhaço. Há também registros de Alcibíades com seu neto Alcibíades Albano Pereira.
O documento condecorativo é o cinturão de Joanita Pereira, produzido com metais nobres e com 54,5 cm de circunferência. No seu centro há uma placa oval em que a homenageada aparece em alto relevo, executando o trapézio triplo de voos. A placa traz a inscrição: “Presented to Mademoiselle Pereira the Champion Gymnastic artist. London. By Miss Venetia Bagshaw, July 6th 1868”. Uma placa menor, localizada à esquerda da placa central, traz a inscrição: “Mademoiselle Pereira Circus, High Holbom London”. Já na outra, à direita, onde se apresenta numa corda indiana, está: “Mademosille Pereira, Frankone Circus, Manchester”.
Há, ainda, um exemplar do disco de Fuzarca com a faixa “Acharam a mulher do Rui” (Celso Mendes/Albano Pereira), de 1967, da Gravadora Cock-Tail.
O cinturão condecorativo de Joanita Pereira, o mais antigo documento do acervo do CMC, atesta que a coleção Família Pereira começou a ser constituída na Europa, na segunda metade do século XIX. Com o casal Joanita e Albano Pereira, o cinturão atravessou o Atlântico e chegou ao Brasil em 1872. É possível supor, diante da trajetória exitosa da família, que o cinturão seja o único documento remanescente de uma coleção muito maior do que a que chegou ao CMC, em 2010. Poucos documentos restaram da primeira e da segunda geração, sendo que a maioria deles se concentram na terceira geração, representada por Albano Pereira Neto, pioneiro na televisão ao lado do palhaço Torresmo (Brasil José Carlos Queirolo). Após 1975, com a morte de Fuzarca, a coleção ficou sob a guarda de seu filho Alcibíades Albano Pereira, quarta geração da família, já fora do circo.
Em 2008, ao visitar a exposição “Largo do Paissandu, onde o circo se encontra”, Alcibíades Albano Pereira se aproximou do projeto de criação do CMC e, em 2010, transferiu para a instituição a coleção, que se encontrava sob sua guarda.
Em 2012, a coleção subsidiou a exposição de caráter permanente do CMC, Hoje tem espetáculo, onde encontra-se exposto o cinturão de Joanita Pereira.
Em 2022 parte do acervo iconográfico foi reproduzido na Exposição Itinerante “O circo modernista”, que procurou contextualizar a influência circense no projeto modernista brasileiro a partir das famílias em atividade nas primeiras décadas do século XX em São Paulo, e que formaram verdadeiras dinastias de palhaços, como a Pereira.
Em 2023 começou a ser realizado o processo de reconhecimento e classificação final dos níveis da coleção; assim como a descrição, contextualização histórica e catalogação. No ano seguinte, em 2024, foi realizada pesquisa sobre Joanita Pereira que revelou a importância da artista na história mundial do circo.