Histórico

A princípio um acervo arquivístico, foi se tornando híbrido a partir da chegada de coleções com documentos tridimensionais

A constituição do acervo do Centro de Memória do Circo (CMC) começou antes mesmo da fundação da instituição. Na verdade, a existência de um conjunto documental  bastante significativo sobre o circo brasileiro, formado a partir da junção das coleções do  Circo Nerino (1913-1964),  do Circo Garcia (1928-2003), em 2006, que motivou a criação da instituição.

No início, o  acervo do CMC se caracterizou principalmente como um acervo arquivístico, mas com a chegada de novas coleções com documentos tridimensionais ─  indumentárias, como o figurino do palhaço Torresmo; aparelhos circenses como a espada do engolidor Yorga;  e o boneco Benedito, do ventríloquo Landão ─,  o hibridismo do acervo foi acentuado.  

Os primeiros conjuntos documentais sobre o circo a serem incorporados pelo acervo do CMC, após sua inauguração, vieram das famílias  Pinto (dos palhaços Piolin e Figurinha), Seyssel (dos palhaços Arrelia e Pimentinha), Pereira (dos palhaços Alcibíades e Fuzarca), Queirolo (dos palhaços Torresmo e Pururuca), e do faquir Silk, localizadas pela pesquisa Largo do Paissandu, onde o circo se encontra, realizada em 2008 pela produtora Pindorama Circus. Na sequência, foram incorporados os conjuntos pertencentes às famílias Mello, Temperani, à associação da classe circense Abracirco, do ilusionista Fu Li Chang e, mais recentemente, do Circo Teatro Irmãos Almeida. 

O CMC também incorporou ao seu acervo conjuntos reunidos  de outras instituições culturais, como a  Coleção Júlio Amaral de Oliveira ─ um dos mais importantes pesquisadores e colecionadores do circo brasileiro ─, proveniente do  Museu de Imagem e Som de São Paulo (MIS-SP), em sistema de comodato em 2013; e o conjunto de indumentárias do palhaço Piolin, que se encontrava no Museu de Arte de São Paulo (MASP), desde 1972, e que foi doada para o CMC em 2016. Neste mesmo ano, a coleção Circo Garcia foi reconhecida pelo Programa Memória do Mundo pela UNESCO, a primeira relacionada ao circo na história da premiação.

Importante ressaltar que a maioria das coleções são oriundas da comunidade circense. Os documentos foram reunidos, organizados e preservados pela própria comunidade, que muitas vezes é responsável também pela produção desses documentos, seja para o exercício da profissão, seja para o registro da memória. Muito se deve aos memorialistas circenses que registraram a grande aventura do circo em terras brasileiras, fotografando, filmando, reunindo o que a imprensa noticiava, colhendo depoimentos, escrevendo diários.  A dívida  é grande também com a trupe de arquivistas, responsáveis pela montagem de álbuns de fotografias, de  partituras musicais, de peças teatrais e clippings. Assim como com os artesãos circenses que confeccionaram figurinos, aparelhos, cartazes, tabuletas, truques e traquitanas que se encontram hoje no acervo do CMC. Não se pode esquecer ainda daqueles que preservaram esses documentos, ação para a qual a comunidade circense dispôs de até cinco gerações, permitindo a preservação de documentos do século XIX, entre eles o cinturão de Joanita Pereira (1868) e o Diário de Polydoro (1870-1921). É possível imaginar as adversidades pelas quais passaram esses documentos para sobreviver à poeira da estrada, à fuligem do trem, à maresia, à água e ao fogo e, principalmente, à passagem do tempo. 

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